Episódio VI - Playback em sépia
Depois da confusão toda do dia, sabia que este não poderia ficar pior do que já estava. Por falar nisso: já estava até a melhorar; estava agora numa suposta "tour" pela cidade com a Anabela como anfitriã. O sangue que resultara da queda parecia agora ter estancado mas a dor no nariz ainda persistia, agora com menos intensidade
- Acolá ao fundo, encontra-se o Centro de Saúde - disse Anabela enquanto os pensamentos se dissolviam na cabeça - e ali é o centro comercial da cidade - continuava.
Apesar de ter alguma curiosidade em ficar a saber onde se encontrava cada local de interesse, a única coisa que realmente interessava no momento era ter um momento de descontracção depois de todo o drama que passara. E possivelmente um sítio à sombra porque o sol que apesar de encontrar com menos força agora, atacava em força a cabeça e a última coisa que queria era voltar a sangrar do nariz.
- Uma pergunta - disse - por acaso não há um sítio na cidade com árvores e bancos? Um parque da cidade, resumidamente. - expliquei.
- Sim. É por trás do hospital - apontou - olha, se não te importas, precisava de ir ao centro comercial encontrar-me com umas amigas para umas compras.
- Estás à vontade - disse - vou passar pelo parque para ver como aquilo é.
- Está bem... até amanhã! - despediu-se enquanto começou a correr. Presumi que já estivesse atrasada para o encontro depois daquele incidente da queda.
Ansioso por algum descanso e paz, lá comecei a dirigir-me para onde iria repousar por algum tempo antes de voltar ao "ninho".
Aaaahhh...! Foi como se tivesse visualizado um pedaço do paraíso na Terra depois de ter contornado o último canto do hospital: árvores gigantes, relva verdejante e simpáticos bancos davam uma sensação de serenidade. E com um bónus: uma pequena barraca de madeira com "Gelados" de lado, destacou-se daquela paisagem. "Só espero ter trazido algum dinheiro" - pensei. Meto a mão no bolso e tiro um molho de moedas, sendo maior parte delas as famosas moedas "pretas".
"65, 66, 68, 73 cêntimos." - raios... isso nem para um daqueles gelados mais baratos que existe deve de chegar. Felizmente, pude verificar que ainda tinha o dinheiro para um "Mini Milk", o lendário gelado porque todas as mães optam quando os filhos mais pequenos estão sempre a chatear por um gelado. Melhor alguma coisa do que nada, por isso decidi pedir um e gastar o dinheiro em alguma coisa útil. Sentei-me num dos bancos enquanto uma brisa fresca me invadia a face e os cabelos e o sol não me batia mais na cabeça. Saboreei a minoria de gelado que me levou 70 cêntimos enquanto este durou e admirei a paisagem relaxante. "Não me importava de passar aqui a tarde inteira" - suspirei.
Perdido nos pensamentos, eram já 5 horas e o Sol já se encontrava num tom alaranjado. Cheguei a casa e encontrei a minha mãe a descompactar as caixas que continham coisas da nossa outra casa.
- O que é que é isso vermelho debaixo do teu nariz? - perguntou a minha mãe do ápice.
- Como assim? - perguntei baralhado
- Vai ver-te ao espelho - ordenou-me
A uns passos bocados largos, cheguei à casa de banho onde pude visualizar que na verdade o "vermelho" que a minha mãe estava-se a referir era, na verdade, um bocado de sangue seco. Deito as mãos à cabeça - "Só de pensar que tive com isto durante o dia inteiro... AHHHH...!! Que humilhação!".
Comecei a lavar aquilo com água quando a minha mãe apareceu novamente com algo na mão.
- Mais uma coisa, encontrei isto no fogão. Sabes o quê é que é? - perguntou-me mostrando-me um bocados de papel todos pretos. "A página do caderno!!" - veio-me à cabeça.
- Não, não sei... - respondi fazendo uma cara de indiferente.
- Hummm... muito estranho. - desconfiou a minha mãe.
Ia a passar pela sala quando uma caixa me cativou a atenção: Fotografias...
- Mãe, posso levar esta caixa para ver algumas fotografias? - perguntei enquanto me preparava para a levar
- Claro, claro - disse ela, atarefada com a arrumação - mas não desarrumes isso tudo.
Levo a caixa para o quarto e começo a procura - "Fotos do casamento", "Fotos do baptizado", etc. - até que... aha! "Memórias Escolares do Mário".
Começo a desfolhar e a ver algumas das boas memórias - "Aquele Pedro é que era grande cromo" - pensava - "Tudo isto representa o ser que sou hoje". "Memórias do 5º ano" enquanto uma grande fotografia de turma colocava-se em destaque. "Lembro-me bem deste dia... a fotografia foi tirada mesmo á frente do placard com os nossos trabalhos" Lá estava eu... num dos cantos da turma e com uma única rapariga ao meu lado... uma rapariga com cabelos pretos que na altura não falava com ninguém... pergunto-me onde ela estará agora...
Depois de ver mais algumas fotografias, decido arrumar tudo outra vez na caixa.
À noite, antes de dormir, debato-me comigo mesmo e o dia que se passou... que foi tudo, menos calmo. Um dia novo irá surgir amanhã...
Fim do episódio VI.
Yoyo Moderated Message: |
Corrigi uns quantos erros de ortografia, tipo 'comcei', 'saborei' e uns quantos 'á's que deviam ser 'à's.
Já agora, tenho tado a gostar bastante da história, continua por favor =D |
Last edited by Yoyo; May 16, 2011 at 08:41 PM.